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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Dólar deixa instável economia e emergentes cogitam nova moeda

28/1/2014 13:14
Por Redação, com agências internacionais - de Washington


O yuan vale cerca de 1/5 do dólar
O yuan vale cerca de 1/5 do dólar
O desordenamento que a flutuação da moeda norte-americana vem causando nos países emergentes como a Argentina e, em menor proporção, o Brasil, reforçou a tese de que os países que não integram a América do Norte e a União Europeia devem adotar uma nova moeda, capaz de fazer frente ao poderio do dólar e das grandes economias mundiais. A tese, exposta em um artigo publicado na agência chinesa de notícias Xinhua, com a assinatura do Partido Comunista Chinês (PCCh), já alertava no ano passado para a necessidade da adoção de moeda alternativa ao dólar nas reservas internacionais, a fim de reduzir os riscos criados pelas “turbulências” norte-americanas.
O artigo, em uma de suas críticas mais duras aos EUA, afirma que o risco de calote norte-americano reforça a
necessidade de “desamericanizar” o mundo. A China, que é o maior credor da dívida externa dos Estados Unidos, não poupa críticas à política externa do governo de Barack Obama.
“Em vez de honrar seus compromissos como um líder responsável, uma Washington autocentrada abusou do status de superpotência e introduziu mais caos no mundo, transferindo riscos financeiros ao exterior, instigando tensões regionais em meio a disputas territoriais e travando guerras sob o pretexto de mentiras”, aponta o texto.
A razão do artigo publicado em outubro de 2013 ficou evidente, nesta terça-feira, nos distúrbios financeiros deflagrados em Buenos Aires. E os países emergentes, que nos tempos da crise financeira global se tornaram a esperança do mundo ocidental, enfrentam momentos difíceis, com fuga de dinheiro de investidores e consequente desvalorização de suas moedas. Não muito tempo atrás, quando os bancos centrais dos países ricos reduziram suas taxas de juros para quase zero, o fluxo era o contrário: os emergentes foram inundados com capital de investimento vindo das nações ricas, atraído pelas altas taxas de crescimento e juros comparativamente altos.
No entanto, desde que o Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA, passou a testar o abandono dessa política monetária ultraexpansionista, investidores privados e institucionais retiram quantias bilionárias dos países emergentes, na esperança de conseguir novamente retornos mais elevados em seus países de origem – e com menos riscos.
– O desenvolvimento atual explica por que os ministros das Finanças dos países emergentes disseram anteriormente: ‘nós não queremos esta grande liquidez’. Porque, embora este capital de investimento leve inicialmente a um desenvolvimento econômico positivo, leva também a um superaquecimento. E, assim, o arrefecimento já está quase pré-programado – diz Günter Beck, professor de macroeconomia europeia na Universidade de Siegen.
Economia desordenada
De fato, ambos os movimentos de capitais – entrada na crise, saída após a crise – não foram particularmente benéficos para os países emergentes. A forte entrada de capital na época da crise financeira levou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a falar de uma “guerra cambial”. Segundo Mantega, com juros próximos do zero, a política monetária do Fed inundou o Brasil com capital especulativo, levando os juros locais às alturas e desvalorizando o real, provocando a ameaça de uma perigosa bolha inflacionária e pondo, ao fim, toda a economia em desordem.
Qualquer ministro das Finanças ou da Economia tenta atrair capital e investimentos estrangeiros para seu país. Mas tudo depende da dose. O que, em tempos normais, conduz ao crescimento e à criação de postos de trabalho pode se tornar um problema se um país registrar uma grande entrada de dinheiro em curto intervalo de tempo, de forma que ela não pode ser devidamente absorvida.
– Muito em muito pouco tempo: isso significa alocações inadequadas desse capital, ou seja, um superaquecimento e possíveis crises – explica Beck.
Moedas sob pressão
Mas da mesma forma que as moedas de países emergentes sofreram, na época da enxurrada de dinheiro, uma enorme valorização, elas se encontram hoje em queda livre – devido à grande fuga de capitais em tão pouco tempo. Assim, o Banco Central da Argentina já desistiu da compra de divisas para apoiar o câmbio, o que fez com que a cotação do peso reagisse com uma queda de 20% na semana passada. A pressão é particularmente forte sobre as moedas de países que são especialmente dependentes do capital estrangeiro – como a Turquia. Mas também o rublo russo, o rand sul-africano, o real brasileiro ou o peso mexicano perderam maciçamente valor – e registram as menores cotações dos últimos anos.
A fuga de capitais estrangeiros começou em maio do ano passado, quando o então presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, cogitou perante o Congresso a possibilidade de um tapering, a desistência gradual da política monetária ultraexpansionista de juros quase zerados.
– É sempre muito, muito difícil extrair essa política. Creio que também não é aconselhável fazê-lo numa situação de crise. A meu ver, no entanto, isso é fundamental para a estabilidade a longo prazo – avalia Beck. Os especialistas concordam que praticar uma política de dinheiro barato por muito tempo pode provocar novas bolhas de preços e ativos.
Teoria na prática
Mas agora também se pode ver que abandonar essa política não é assim tão fácil. “O sofrimento é quase inevitável”, diz Beck. Segundo ele, a política do dinheiro barato teve efeitos bastante positivos. Uma inversão dessa política implica também uma inversão dos efeitos.
– Os políticos devem levar em consideração que essa mudança provoca efeitos reais negativos – alerta.
Segundo o professor da Universidade de Siegen, a longo prazo, sempre haverá objetivos conflitantes quando um Banco Central não estiver comprometido somente com a meta da estabilidade monetária, mas também com o crescimento e a criação de empregos, como é o caso do Fed americano. Ao menos na teoria, o Banco Central Europeu (BCE) se encontra numa situação mais confortável. Pois, no papel, ele só precisa se preocupar com a estabilidade do euro e nada mais.
– A política do Banco Central deveria ser configurada de maneira a não sentir nenhuma obrigação frente à economia real, ou seja, que ela não tenha o controle sobre o ajuste da economia real como objetivo – diz Beck.
Mas, em tempos de crise, uma coisa é a teoria, outra é a prática. Indagado se ele teria reagido diferentemente de Ben Bernanke ou do presidente do BCE, Mario Draghi, o professor de macroeconomia europeia respondeu:
– Provavelmente não.

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