Mecanismos cibernéticos da fisiologia humana
No organismo humano, como nos demais seres vivos, os processos fisiológicos são controlados por mecanismos cibernéticos.
Na definição de Rosalda Paim, cibernética é "a ciencia que trata da circulação de informações e dos mecanismos de comando, regulação e controle, no ser vivo, na máquina e na sociedade".
No que tange ao organismo humano, destacamos o seguinte trecho do seu livro "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem", segunda edição:
"Informações e Mecanismos Cibernéticos (Integração, Regulação e Controle):
A maior parte dos sistemas de integração, regulação e controle do organismo funciona por mecanismos cibernéticos, os quais operam através de dispositivos de retroalimentação ou “feedback” negativo, isto é, efetuando reajustes mediante a entrada de novas informações no processo (“ïnput”), em função dos erros de saída (“output”), isto é, realizando a “correção por meio do próprio erro”. Para esta finalidade, o organismo possui inúmeros de dispositivos cibernéticos (de regulação por retroalimentação ou “feedback”)".
Entre os inúmeros exemplos apresentados, destacamos o seguinte:
Por ocasião de sua ingestão, a glicose representa, ainda na cavidade bucal, uma carga de informação ou estímulo de natureza gustativa. Uma ingestão excessiva de glicídios ou mesmo de outros alimentos, provoca um aumento da glicemia. Esta elevação da concentração de glicose no sangue (hiperglicemia pós-prandial) e o próprio nível glicêmico corresponderá a codificação de uma mensagem, cujo canal de transmissão é o sangue, enquanto células pancreáticas, funcionando como receptores específicos, situados no pâncreas (células alfa das ilhotas de Langherans), captam e interpretam (decodificam) a mensagem, cuja resposta é a inibição da síntese e da secreção do seu hormônio - o glucagon.
Concomitantemente, esta mesma informação é também captada e decodificada por receptores, também específicos, localizados nas células beta das mesmas ilhotas de Langherans, cuja estimulação ensejará uma resposta, a qual será uma maior produção de outro hormônio, a insulina, que atuará nas membranas das células de todo o corpo, aumentando sua permeabilidade e, assim, favorecendo a absorção de glicose e o conseqüente incremento de seu consumo como fonte de energia, decorrente do aumento do metabolismo celular, resultando na diminuição da glicemia.
Ao mesmo tempo, na vigência de um teor de glicose acima dos limites normais (hiperglicemia), acrescido da elevação do nível de insulina (insulinemia) e da diminuição do nível de glucagon no sangue, estes fatores correspondem a uma carga de informações ao fígado que, em resposta, seqüestra a glicose do sangue e, mediante um processo de síntese (anabolismo), denominado glicogênese, a converte em glicogênio, um polímero da glicose, desta forma reduzindo a glicemia, até restabelecer o nível homeostático (normoglicemia).
O glicogênio e armazenado no próprio fígado, constituindo uma reserva, transformável em energia, de acordo com a necessidade. Por outro lado, o metabolismo basal, acrescido das atividades laborativas e da ausência prolongada da ingestão de alimentos, produz hipoglicemia.
Quando a concentração de glicose diminui a níveis abaixo do normal (hipoglicemia), esta situação, além de acionar o mecanismo da fome, funcionará, também como mensagem, para as células beta, cuja resposta a este estímulo é a inibição da produção de insulina para “economizar” o consumo de glicose e buscar manter níveis homeostáticos da glicemia, ao mesmo tempo em que constitui mensagem para as células alfa, cuja resposta é o aumento da elaboração de glucagon.
A insulina funciona como um mecanismo de gangorra em relação ao glucagon: quando um aumenta o outro diminui e vice-versa.
Os níveis aumentados de glucagon veiculam mensagem que provoca como resposta, uma atividade analítica (catábolica) do fígado (sob a ação do glucagon), isto é, a “quebra” das moléculas de glicogênio hepático, isto é, o desdobramento (despolimerização) ou conversão do glicogênio em moléculas livres de glicose (glicogenólise), também, com a finalidade de manter níveis adequados de glicemia para atender às necessidades do organismo, as quais são conduzidas pelo sangue (transporte), até à intimidade celular (aporte celular), onde sob a ação do oxigênio e de enzimas específicas, é queimado (oxidado), constituindo o fenômeno de respiração celular (catabolismo), produzindo energia e, tendo como subprodutos, água e dióxido de carbono (CO2).
Estes efeitos homeostáticos são resultantes de um sistema informacional do organismo (trocas de informações), mediado por matéria (concentração de substâncias) que aciona um mecanismo cibernético de retroação (“feedback” negativo), cujos estímulos aos órgãos receptores são mediados por concentrações de substâncias, provocando uma resposta, expressa por “trocas de matéria”, como exemplificado acima (caso do pâncreas), ou mesmo, por “trocas de matéria e energia”.
"Princípio da Enfermagem Cibernética
Portanto, a dinâmica e interrelações entre os vários procedimentos necessários à prestação de assistência de enfermagem às pessoas (família, comunidade) constituem o processo de enfermagem.
O enfermeiro é membro integrante da equipe de agentes do aparelho prestador de assistência de saúde ao homem, à família, à comunidade e à sociedade.